domingo, 2 de dezembro de 2012

Fable: The Journey


É claro que Fable: The Journey não é um spin-off por acaso. Naturalmente, a Lionhead sabe muito bem das implicações de se vincular uma franquia de sucesso — com legiões de fãs sempre ansiosos pelo próximo aporte — a uma jogabilidade não exatamente típica.
E é exatamente por isso que Fable: The Journey é o que é. Basicamente? Uma experiência curiosa, quase sempre bela, muitas vezes divertida... Mas inegavelmente leviana. Casual, mesmo. Em outras palavras: você dificilmente encontrará aqui a densidade — composta por doses iguais de humor e drama — que normalmente se faz presente nos títulos principais da franquia.
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Entretanto, convém não tirar de The Journey um mérito inegável: o de fortalecer, mesmo que um pouco, a frágil ligação entre o Kinect e o público chamado de “hardcore”. Trata-se de um vínculo que fora prometido por todas as propagandas originais do periférico, é verdade.
Entretanto, mesmo o mais fiel dos fãs do sensor de movimentos da Microsoft teria dificuldade em rebater: não houve muito mais do que bolinhas para chutar e espalmar, em abordagens pontuadas por tentativas hardcore simplesmente desastradas ou maçantes. Nesse ponto, não se pode negar: The Journey realmente alterou o panorama do Kinect.
É provável que isso torne a história aqui — um simples amontoado de clichês divertidos — em mera perfumaria. O tipo de coisa que se aceita, já que, convenhamos, onde mais você poderia disparar bolas de fogo com movimentos reais das mãos enquanto se ocupa de desarmar um esqueleto animado por doses cavalares de uma magia maligna?
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A trama, entretanto, não vai muito além do que se poderia esperar de um jogo elaborado para “vender um peixe” — um peixe que já não é exatamente fresco, é verdade. Aqui você controlará Gabriel, um jovem cigano que acabou se perdendo do seu povo. Naturalmente, lá pelas tantas, o herói improvável encontrará a onipresente (e incrivelmente longeva) Theresa. O que se segue é a tradicional batalha entre luz e trevas.
Mas, enquanto conta a história sobre a nova ameaça de Albion, Fable: The Journey é perfeitamente capaz de fazer o que praticamente nenhum jogo conseguiu até hoje: fazer com que você simplesmente se esqueça do Kinect enquanto está jogando. Bem, pelo menos até as primeiras faltas de precisão aparecerem. Convêm olhar essa “balança” entre originalidade e percalços mais de perto.

Aprovado

Uso criativo do Kinect
Se o último jogo que você encarou com o sensor de movimentos da Microsoft não fazia muito mais do que arremessar bolas na sua direção, então é provável que Fable: The Journey soe como uma grata surpresa. E isso por um motivo bastante simples: a despeito de certa falta de precisão característica do Kinect, a forma com que a Lionhead conseguiu organizar a jogabilidade faz de The Journey um belo exemplo do potencial real do aparato.
Ok, é verdade que, de cara, a impressão que se tem é a de “mais um título para se chacoalhar em frente à TV”. Mas isso desaparece rapidamente — juntamente com um tutorial tão maçante quanto necessário. Embora o game disponibilize apenas uma única magia no início, novas possibilidades são acrescentadas conforme o jogo avança.
Ao final, já contanto com várias magias, uma lança e um gancho bastante útil, você provavelmente terá se acostumado a “empurrar” a tela  (magia simples) ou a dar um “tchauzinho” para a TV (magia de fogo). Isso enquanto desarma um esqueleto e arranca um de seus braços. Em suma: a movimentação de The Journey realmente consegue se tornar intuitiva com o tempo — de forma que você possa até acabar se esquecendo de que está utilizando o Kinect.
Aftertouch (Toque Extra)
Trata-se aqui, na verdade, de mais uma das características da jogabilidade de The Jorney. O que o game chama de Aftertouch (Toque Extra) é a possibilidade de, por exemplo, alterar a direção de uma bola de fogo após o seu lançamento. Parece pouco, a princípio.
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Entretanto, vale lembrar que se trata aqui de um título on-rails. Dessa forma, a possibilidade de atacar inimigos fora das vistas (talvez escondidos atrás de pilastras ou escombros) não apenas traz novas possibilidades estratégicas como também acrescenta uma preciosa variação ao desafio do game.
E o melhor: o funcionamento aqui não apenas é simples como ainda mostra um desempenho bastante preciso (em grande parte das vezes, pelo menos). Para alterar a direção de um projétil disparado, basta descrever a rota desejada com um movimento de braço. O efeito desencadeado com isso é capaz de conferir uma sensação de imersão bastante interessante.
Sensação de evolução
Eis algo que normalmente ocorre em títulos projetados para o Kinect: após dominar a jogabilidade do game, você acaba ficando com a impressão de que a coisa toda simplesmente não evolui mais. Bem, isso não ocorre aqui.
Em primeiro lugar, porque a Lionhead foi suficientemente esperta para não prover Gabriel com todas as magias do jogo logo de cara — será necessário se embrenhar pelo jogo para liberar tudo.
Além disso, o sistema de melhorias de The Journey é suficientemente rico para conferir upgrades capazes de realmente mostrar que você se transforma, aos poucos, em um mago incrivelmente poderoso. Basicamente, gastar pontos conquistados durante a aventura fará com que Gabriel dispare quaisquer projéteis mais rapidamente — além de poder aumentar dramaticamente o poder de destruição de cada magia.
Ponha tudo para funcionar nas batalhas contra os chefes
Se há um momento em que você poderá por à prova diversos movimentos de Journey de uma única vez, esse momento certamente é uma boa batalha contra um chefe. Embora os monstrengos aqui normalmente sejam mais ameaçadores no tamanho do que nas habilidades, é realmente divertido (às vezes até desafiador) tentar acertá-los ao mesmo tempo em que se disparam esquivas e se tenta acertar um ponto específico do cenário.
Um menino e seu cavalo
Se você faz o tipo “jogador insensível interessado em pancadaria”, então é provável que o relacionamento de Gabriel com a égua Seren não lhe diga muita coisa. Para os demais, entretanto, vale dizer: as possibilidades de interação entre o protagonista e sua fiel companheira não apenas mostram mais um conjunto de boas utilizações do Kinect como ainda conseguem dar um fôlego interessante à história um tanto genérica de The Journey.
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Na verdade, há uma passagem que ilustra bem a natureza do relacionamento entre Gabriel e Seren (SPOILER ADIANTE). Ao ser ferida por uma flecha, a égua acaba ficando bastante agitada, e cabe a você resolver a situação. Movimentar os braços fará com que o animal se acalme. Depois disso, você precisará dirigir a mão calmamente para o local em que a flecha foi enterrada — sempre tomando cuidado para não deixar o animal em um estado de nervos ainda pior.
Uma vez que Seren tenha se acalmado, você precisará retirar (lentamente) o projétil do local do ferimento. Uma situação simples, é verdade. Entretanto, conforme o jogo avança, passagens prosaicas como essa acabam criando um interessante laço empático entre Gabriel e Seren. Afinal, é o “seu cavalo” — e cabe a você tomar os cuidados necessários, de forma a não perder um dos poucos aliados na eterna guerra contra as forças das trevas.
Albion: sempre um espetáculo à parte
Além de um imenso mundo para explorar e de possibilidades de conduta abertamente imorais (tais como uma orgia), certamente há pelo menos mais um fator que sempre foi associado a Fable: a estética. Isso porque a Lionhead sempre fez questão de conferir uma unidade aos títulos — tanto em relação à arquitetura dos lugarejos quanto no que se refere a escolhas de iluminação.
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Bem, mesmo sendo um spin-off, pode-se dizer que The Journey, pelo menos nesse quesito, não deixa de ser um autêntico Fable. Vale até um conselho aqui: entre um chacoalhar de mão e outro, preste alguma atenção aos cenários do game.
Nas viagens, por exemplo, é difícil não se deslumbrar com belas cascatas ou com a eterna iluminação de por do sol da série — mesmo que algumas texturas não tenham lá muita qualidade técnica. Para complementar a atmosfera característica, há ainda as histórias míticas contadas pela tricentenária Theresa.

Reprovado

A boa e velha falta de precisão do Kinect
Não se pode negar que a Lionhead conseguiu aqui se equilibrar razoavelmente bem no fio de navalha que é a precisão do Kinect. Afinal, boa parte dos movimentos não exige mais “delicadeza” do que seria possível — e, na maior parte do tempo, basta mirar fracamente para um ponto da tela para atingir qualquer inimigo próximo. O problema é que, em alguns momentos, as falhas nas capturas de movimentos conseguem de fato comprometer a ação.
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Um bom exemplo disso são os puzzles. Em alguns momentos você precisará atingir partes específicas da tela para destruir pontos-fracos do cenário ou reorganizar peças. Bem, mas o que fazer se a mira do Kinect simplesmente não ajuda? As várias tentativas seguidas podem realmente acabar frustrando um bocado.
Fácil, extremamente fácil...
Não que a facilidade excessiva de boa parte do desafio de Fable: The Journey seja exatamente um problema. Afinal, a proposta da Lionhead aqui é bastante óbvia: trata-se mais de uma forma de entretenimento interativo do que do tipo de jogo com desafio de arrancar cabelos. O problema é que, às vezes, você acaba de fato desejando que um inimigo com um pouco mais de “sangue nos olhos” apareça na sua frente, trazendo consigo pelo menos um pouco mais de dificuldade.
História genérica
Sim, é verdade que o relacionamento entre Gabriel, Theresa e Seren traz um bom envolvimento emocional. O problema é que, de forma geral, a trama de Fable: The Journey tem mais clichês do que seria aceitável.
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Na verdade, logo na introdução, a impressão que fica é de que alguém na Lionhead compôs rapidamente a história do game em um pedaço de guardanapo — unicamente porque precisava existir alguma coisa.
Trata-se aqui simplesmente de mais uma aparição do clássico sistema maniqueísta (Bem e Mal bem definidos) animado pela escolha de um herói central, “O Escolhido”. Sem dúvida uma continuação pobre para a trama de Fable III — cuja história antecede a de The Journey em 15 anos.
Vale a pena?
Há pelo menos um mérito de Fable: The Journey que é incontestável: o de aproximar, ao máximo, as funcionalidades do Kinect do público “hardcore”. Mesmo considerando-se o incrível desfile de clichês fantasiosos que invadiram Albion aqui, as soluções encontradas pela Lionhead para levar a típica magia da série para o potencial razoavelmente limitado do sensor de movimentos do Xbox 360 são absolutamente dignas de nota.
Sim, é verdade que as captura do Kinect ainda dão belas escorregadas de tempos em tempos. Entretanto, o simples fato de se poder executar várias magias de uma única vez, atingindo adversários diversos enquanto se tenta desarmá-los, pode realmente ser divertido. E isso por um motivo bastante simples: as várias possibilidades aqui acabam tornando a utilização do Kinect intuitiva — algo realmente raro nos títulos para o periférico.
Talvez este seja realmente o ponto: em um panorama ocupado por jogos com desafios simples (normalmente focados em esportes), The Journey conseguiu aparecer com um mínimo de seriedade. Ok, talvez não se trate da ligação semi-divina entre a captura de movimentos e os jogos de grande porte, tal como Peter Molyneux havia prometido. Mas ainda se trata de Albion. E ainda se trata de Fable. E com certeza se trata de uma das melhores propostas para o Kinect lançadas até hoje.
Fonte: NZN

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